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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Nasce no Brasil 1º bebê selecionado geneticamente para curar irmã. A criança não carrega gene doente e é totalmente compatível com irmã, que sofre de talassemia major.-Estadão

Fernanda Bassette

Acaba de nascer o primeiro bebê brasileiro selecionado geneticamente em laboratório de maneira a não carregar um gene doente e de ser totalmente compatível com a irmã - que sofre de talassemia major, uma doença rara do sangue e que se não for tratada corretamente pode levar à morte.
Jenyce Carla da Cunha, mãe da pequena Maria Clara, compatível com a irmã - Evelson de Freitas/AE
Evelson de Freitas/AE
Jenyce Carla da Cunha, mãe da pequena Maria Clara, compatível com a irmã


Maria Clara Reginato Cunha, de apenas quatro dias, nasceu no Hospital São Luiz para salvar a vida de Maria Vitória, que tem 5 anos e convive com transfusões sanguíneas a cada três semanas e toma uma medicação diária para reduzir o ferro no organismo desde os 5 meses.

Nos pacientes com talassemia major - a mais grave e a que realmente precisa de tratamento -, a medula óssea produz menos glóbulos vermelhos e, consequentemente, não consegue fabricar sangue na frequência necessária, podendo causar anemias graves. No Brasil, são pouco mais de 700 pessoas com a doença.

Técnica. Selecionar embriões saudáveis para tentar salvar a vida de outro filho doente não é novidade - esse procedimento é feito no mundo todo desde a década de 1990. A novidade, neste caso, é que além de não carregar o gene da talassemia major, o embrião selecionado (Maria Clara) também é 100% compatível com Maria Vitória, o que vai facilitar a realização de um transplante de sangue de cordão umbilical.

Segundo o geneticista Ciro Dresh Martinhago, a técnica usada para identificar os genes doentes e também a possível compatibilidade é a mesma - de biologia molecular-, mas exige mais conhecimento específico no caso de analisar a compatibilidade.

“A gente coleta uma única célula do embrião para fazer a análise molecular. Ao todo, verificamos 11 regiões do DNA da célula, sendo dois relacionados ao gene alterado e nove relacionados à compatibilidade, que é mais complexo”, explica o médico, diretor da RDO Diagnósticos e responsável pela análise genética.
De acordo com ele, a dificuldade técnica e a falta de profissionais experientes nessa área é um dos motivos que faz o método ser pouco usado em todo o mundo. O primeiro caso de seleção de embrião 100% compatível aconteceu em 2004, na Europa.

Decisão. Antes de decidir fazer a fertilização in vitro com o objetivo de tentar curar a filha, o casal Jênyce Carla Reginato Cunha e Eduardo Cunha entrou em contato com ao menos 30 médicos do Brasil e do exterior.
Na primeira tentativa, os seis embriões gerados no processo de fertilização foram descartados ou porque tinham a doença ou porque eram incompatíveis com Maria Vitória. Mesmo assim, o casal não desistiu.

Na segunda tentativa, o casal conseguiu produzir dez embriões, dos quais apenas um não tinha a doença e era 100% compatível. Um segundo embrião compatível tinha apenas traços da doença (ela não se manifesta) e também foi implantado na mãe.

“Até agora já concluímos 90% do nosso objetivo. Os 10% que faltam são o transplante, que vamos deixar nas mãos de Deus. Se não tivéssemos persistência, fé e coragem não estaríamos aqui”, afirmou Jênyce.

A coleta das células do cordão foi feita pela equipe do Hospital Sírio-Libanês, onde será feito o transplante. “Há outros relatos semelhantes na literatura e tem tudo para dar certo. Vamos esperar alguns meses porque se não der certo com o cordão, nós podemos coletar a medula do bebê”, explicou o hematologista Vanderson Rocha, que será o responsável pelo transplante.

Merula Anargyrou Steagall, presidente da Associação Brasileira de Talassemia (Abrasta), diz que a entidade está comemorando a conquista. “É uma porta que se abre e que representa uma esperança para outras doenças genéticas e não apenas para a talassemia. Agora vamos acompanhar os resultados”, afirmou.
Artur Dzik, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana, também considera o nascimento de Maria Clara uma conquista. “É mais um avanço da ciência na área da medicina reprodutiva que só veio para o bem. É uma forma de medicina preventiva”, disse.

TRTRS-Indenização para professor universitário humilhado diante de colegas.

A Universidade de Passo Fundo (UPF) vai pagar R$ 30 mil como reparação moral ao professor Claudio Rafael Goellner, humilhado e ameaçado pelo diretor da unidade em que trabalhava. O fato ocorreu durante reunião com aproximadamente 50 professores, todos colegas do reclamante.
A decisão é da 7ª Turma do TRT-RS e confirma a procedência da ação, estabelecida em sentença da juíza Ana Luiza Barros de Oliveira, da 1ª Vara do Trabalho de Passo Fundo. Os desembargadores do TRT-4 entretanto, aumentaram o valor da indenização, arbitrado pela magistrada de primeiro grau em R$ 5 mil.

O professor foi admitido pela universidade em março de 1986 e despedido em janeiro de 2008. A reunião citada ocorreu em maio de 2007. Na ocasião, conforme as testemunhas ouvidas no processo, discutia-se o ingresso do professor no plano de carreira da universidade.

Segundo os relatos, o diretor da unidade Marcos Antonio Montoya Rodriguez, dizendo-se preposto da reitoria, discorreu efusiva e agressivamente sobre a incompetência do reclamante, utilizando-se de expressões "grotescas e pejorativas", afirmando que ele seria mau professor e que os alunos não gostavam dele.

As testemunhas disseram que esse tipo de tratamento não era comum nas reuniões na Faculdade de Administração e que a situação gerou perplexidade e alguns dos presentes fizeram uma manifestação em favor do reclamante, que não reagiu no momento.

Baseada nestes elementos, a juíza de Passo Fundo atendeu ao pedido de reparação por danos morais e destacou que a discussão sobre o desempenho acadêmico do professor era compreensível, pois um bom histórico era pré-requisito para ingresso na carreira. Entretanto, para a julgadora, a condução da reunião foi desproporcional e extrapolou os limites da razoabilidade.
Descontente com a decisão de primeiro grau, a universidade recorreu ao TRT-RS. E o professor pediu majoração do valor reparatório.

O relator do acórdão na 7ª Turma, desembargador Flavio Portinho Sirangelo, ressaltou que a agressão serviu como ameaça para que o professor desistisse de concorrer ao cargo que o agressor ocupava (diretor da unidade). "Tal conduta violou direito de personalidade do empregado, atingindo a sua dignidade e causando inegável humilhação perante os seus colegas professores. Tem-se que plenamente caracterizado o ato ilícito, nos exatos termos do art. 186 do Código Civil, ensejador do dever da ré de reparar os danos morais daí resultantes", concluiu o voto.

O advogado Julio Francisco Caetano Ramos atua em nome do professor autor da ação. A UPF interpôs recurso de revista que não foi admitido, seguindo-se a apresentação de agravo de instrumento que está em fase de encaminhamento ao TST. (Proc. nº 0225500-64.2007.5.04.0661) .

Fonte: Espaço Vital - www.espacovital.com.br - 14/02/2012